De Josias de Souza
O tratamento dispensado por Jair Bolsonaro à imprensa evolui aceleradamente do desrespeito para a indignidade. O presidente já não compromete apenas o que resta da sua reputação. Incapaz de elevar a sua estatura, Bolsonaro rebaixa o teto da Presidência. Ao insultar a jornalista Patricia Campos Mello, difundindo em tom jocoso insinuações sexuais, Bolsonaro associou à figura da autoridade máxima da República um comportamento asqueroso.
Bolsonaro se consolida como um presidente sui generis num regime supostamente democrático, do tipo que jamais nega à imprensa o direito inalienável de concordar inteiramente com ele. Para Bolsonaro, as entrevistas são sempre bem-vindas. E elas se tornam melhores quando o presidente consegue dialogar com os repórteres à sua maneira. Para ele, o melhor diálogo é aquele em que o presidente obriga o interlocutor a calar a boca. Se o repórter insiste na pergunta, Bolsonaro interrompe a entrevista.
Bolsonaro sempre perde a linha quando não acha resposta para uma pergunta incômoda. Antes de dar as costas, ele questiona a sexualidade de um repórter, ofende a mãe de outro, faz gracejos sexistas em relação a uma jornalista que fez reportagem que não saiu ao seu gosto. Isso não é normal. É absurdo. Como os males sob Bolsonaro sempre vêm para pior, o absurdo tem método. É ensaiado. É executado de forma teatral, de modo a saciar a fome de controvérsia dos seus súditos nas redes sociais.
Bolsonaro acha que desmerece a imprensa com seus ataques. É um engano. Na verdade, o presidente oferece aos repórteres que agride diariamente a oportunidade de se engrandecer. O único engajamento político que um jornalista que acompanha o poder deve ter é o seu compromisso de expor os desvios e a estupidez dos que exercem o poder em nome da sociedade. Se não fosse pelos jornalistas, a indignidade não deixaria vestígios. Bolsonaro vai deixando para a posteridade um rastro de incivilidade.
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