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DELATOR DO IDEMA DIZ ESTAR ABANDONADO E COM MEDO DE MORRER



Do G1/RN

Medo, frustração e arrependimento. São estes os atuais e principais sentimentos do operador do “maior desvio de recursos públicos que se tem notícia na história do Rio Grande do Norte”. Ex-diretor Administrativo do Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte (Idema), Gutson Bezerra foi condenado a 17 anos de prisão por envolvimento na retirada ilegal de R$ 35 milhões dos cofres do órgão entre os anos de 2011 e 2015. Após delação premiada, ficou em prisão domiciliar. E foi no local onde mora, em Natal, que ele falou pela primeira vez com a imprensa desde que foi sentenciado.
A condenação do delator foi decorrência da chamada ‘Operação Candeeiro’, deflagrada pelo Ministério Público em setembro de 2015. Além dos 17 anos de prisão, Gutson foi sentenciado a restituir R$ 13.790.100,60 aos cofres do Idema, coisa que ele afirma já ter feito. Outras seis pessoas também foram condenadas pela Justiça.
A expressão “maior desvio de recursos públicos que se tem notícia na história do Rio Grande do Norte” foi usada 16 vezes pelo juiz Guilherme Newton Pinto, da 6ª Vara Criminal, na sentença condenatória do processo da Operação Candeeiro.
O único que permanece preso, mesmo que em domicílio, é o próprio Gutson. Até o final de junho, a propósito, ele aguarda progressão da pena para o cumprimento da sentença em regime semiaberto – quando também deverá deixar de usar tornozeleira eletrônica.
A entrevista de Gutson, exclusiva ao G1, foi acompanhada por um dos advogados. Ele só não quis falar sobre a delação propriamente dita, pois alega já ter falado tudo o que deveria ao Ministério Público – incluindo, segundo ele, como teria sido a participação de um senador e dois deputados federais no esquema. Na semana passada, o deputado estadual Ricardo Motta, que presidiu a Assembleia Legislativa entre os anos de 2011 e 2015, foi denunciado pelo Procurador-Geral de Justiça do RN por envolvimento nos desvios dos recursos do Idema. De acordo com a denúncia, dos R$ 35 milhões, o parlamentar teria usurpado R$ 19 milhões, tendo embolsado R$ 11 milhões deste montante
Durante a entrevista, Guston também pediu para que não fosse revelado o endereço dele. O delator tem medo de morrer. “O tempo todo”, confirmou. Gutson contou que dorme pouco, de três a quatro horas por noite, e que o restante do tempo fica sentado numa posição que não lhe permite tirar os olhos do portão do condomínio. Certa vez, disse que foi reconhecido dentro do residencial. “Quase enfartei”, disse.

Mensagem da mãe e choro

Gutson Johnson Giovany Reinaldo Bezerra completou 49 anos no dia 2 de fevereiro. É advogado e tem três filhos. A atual mulher, com quem não tem filhos, não estava presente quando Gutson recebeu o G1. Sem entrar no mérito da delação, restou a ele falar sobre como tem vivido, de sentimentos, de lições. E, apesar de demonstrar frieza, chorou.
As lágrimas de Gutson caíram quando ele lembrou da mãe, citada por ele mesmo em meio às delações. Rita das Mercês foi presa em 2015 durante a operação ‘Dama de Espadas’. Segundo o MP, ela participou de um esquema que desviou R$ 5,5 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa, onde ela trabalhava como procuradora-geral. Rita passou três dias detida, mas foi solta por força de um habeas corpus. Depois de tudo o que aconteceu, o único contato que ela teve com o filho, segundo o próprio Gutson, foi por meio de uma mesangem enviada por telefone em fevereiro. Nela, a mãe parabeniza o filho pelo aniversário e o deseja boa sorte.
“A relação com minha mãe sempre foi muito boa até acontecer esse problema. Uma das grandes coisas que eu sinto, não sei explicar até o porquê disso, porque hoje tá com um ano e 9 meses que eu tô preso, e ela nunca me visitou. E, antes, a gente sempre teve uma relação boa. Todo dia eu tava na casa dela, conversávamos muito, tomávamos café da manhã juntos e nos encontrávamos no escritório todo dia praticamente. Trabalhávamos juntos”, disse Gutson.
“Não lembro quando foi a última vez que vi minha mãe. Desde o dia que eu fui detido, tenho certeza que não vi”, acrescentou.
“Ela me mandou mensagem no dia do meu aniversário. Minha esposa fez um bolinho. Minha irmã veio e ela (Rita das Mercês) passou uma mensagem desejando sorte e feliz aniversário. Pronto. Foi o único contato nesses quase dois anos”.
Os olhos de Gutson também marejaram quando ele falou de Mariana Morgana Reinaldo, filha que ele também delatou. Nos depoimentos, Gutson afirma que ela foi uma das beneficiadas com parte do dinheiro desviado do Idema. Denunciada, a filha mora atualmente fora do país

Medo de morrer

“Eu temo demais pela minha vida. Conto com a ajuda das autoridades pra me dar essa proteção”. “O meu medo é dessas pessoas que foram citadas, de acontecer alguma coisa comigo. A minha integridade física tá em risco. Eu vivo assombrado com medo. Acordo de madrugada assutado”.

“Hoje eu temo até sair na rua. Se fosse hoje a minha progressão, eu sairia assutado. Vou pensar 5, 10 vezes antes de ir. Hoje, eu não teria coragem de ir a Ponta Negra”.

Indicação

“Resido em Natal há cerca de 10 anos. Trabalhei na área empresarial também um tempo. Um tempo em Mossoró e um tempo no Ceará também. Enfim, cheguei aqui em Natal entre 2007 e 2008.
Quando cheguei aqui, fui trabalhar no escritório da minha mãe. Fui trabalhar como advogado. Tinha acabado de me formar e fui trabalhar nessa parte aí, jurídica. Na parte de advocacia, trabalhei até 2010, 2011, quando fui trabalhar no Estado. Fui direto para o Idema, por indicação de minha mãe”.
“Estava em Mossoró. Estava de férias nessa época quando ela me ligou perguntando se eu queria trabalhar nessa diretoria. Como eu era do lado de advocacia, eu nem tive muito interesse. Mas, depois ela disse: Venha. Venha porque é governo, é uma ajuda a mais salarial. Enfim, então foi isso que me levou até lá”.

Padrão de vida

“Meu padrão de vida, antes de 2011, era normal, classe média. Sempre foi normal, de classe média. Nunca tivemos problemas financeiro. Graças a Deus, nunca tivemos. Tinha imóveis. São meus. Quando entrei no Idema, até fiz uma declaração de bens. Tem lá. Acho que oito imóveis. Sete, oito imóveis. Não sei”.

Patrimônio

Indagado sobre o patrimônio que tinha antes de ser diretor do Idema, Gutson declinou: “Sobre esse assunto não vou responder”.

Abandono

“Na verdade, eu fui abandonado praticamente pela minha família inteira e amigos. Eu não tenho contato com ninguém da minha família. Eu fico muito triste. Eu fico quase sem forças. Eu fico, às vezes, até envergonhado de falar esse tipo de coisa porque é muito pesado pra mim. Até então, convivia normalmente com minha família. Nunca houve atrito algum. Aliás, até depois, nunca teve atrito. Simplesmente eles deixaram de… me abandonaram, deixaram de falar comigo, de manter qualquer contato comigo. Isso é uma das coisas que me dói muito dentro desse processo que eu venho passando, esse abandono familiar”.
“A minha filha mais velha, Morgana, me visitava. A última vez que vi ela, eu tava detido no quartel. No dia 2 de fevereiro de 2016 foi a última vez que eu a vi. Não tive mais contato. Ela foi morar fora do país e também eu perdi o contato totalmente”.
“Eu não tenho contato com a minha mãe há um ano e nove meses. Eu tava no quartel detido, quando algumas pessoas, certa vez, tentaram contato com ela. Ela nunca quis. Por sinal, Fernandes foi até tentar um contato, dizendo que eu tava meio mal lá no quartel. Ficou um período lá embaixo e ela não recebeu ele. Então… Criaram uma barreira que, se você me perguntar mil vezes, eu não vou saber responder o porquê disso aí”.

Preço mais alto

“A perda da família e a distância dos meus filhos é o preço mais alto. Porque as coisas materiais foram embora, foram devolvidas. É, enfim… Eu sei que eu tenho essa questão com a sociedade, que eu errei e tô pagando um preço caro por isso. Diante da sua pergunta, o preço mais caro que eu sinto é o abandono familiar, sim”.

Condenação

“Prefiro não comentar, mas valeu para a sociedade e para mim também”.

Delação

“Não vou falar sobre a delação. O MP tem total conhecimento disso aí. Tá nos autos lá do processo. Já entreguei ao Ministério Público. Tudo que eu tinha de entregar, já entreguei. No momento certo virá à tona”.

Momento político

“Em relação a isso aí, eu deixo a cargo da Justiça decidir, tomar as providencias necessárias. A minha parte eu tenho certeza que fiz. Colaborei e continuo colaborando com a Justiça”.

Injustiçado

“Eu me senti muita vezes injustiçado dentro do quartel. Hoje eu me sinto bem porque eu tenho na minha consciência que eu tô pagando pelo meu erro. Paguei pelo erro e vou carregar isso pro resto da minha vida. Eu errei, errei. A sociedade já viu. Eu fui sentenciado. Então eu paguei a minha pena. Pena dos outros, o que vai acontecer, isso aí cabe à Justiça resolver”.
“O próprio processo em si, mostra. Eu não vou relatar sobre pessoas, sobre fatos, não”.
“Eu quero que a Justiça faça, puna quem tiver que punir, absolva quem tiver que absolver, faça justiça. Eu sei que eu to pagando por isso. Não cabe a mim julgar ninguém”.

Sobrevivendo

“Financeiramente eu tô sobrevivendo. Não tô nem vivendo, tô sobrevivendo. É uma luta… financeiramente eu tô arrasado. É… Espero que a sociedade me dê uma nova oportunidade de refazer. Até porque eu tenho dois filhos pequenos para criar. Eu preciso ajudar no sustento das crianças. Preciso de uma oportunidade de voltar a trabalhar e ter uma vida honesta e direita, e seguir o meu caminho. O que eu quero mais é viver em paz, honestamente, e não errar nunca mais porque o preço que paguei foi muito grande”.

Arrependimento

“Muito. Demais”.
“Consciência de que tava fazendo algo errado? Lógico que tinha. Hoje vejo de uma forma mais clara o erro que cometi”.
“Lógico que emocionalmente fiquei muito abalado. E ainda estou. Mas saio fortalecido porque sei que não vou errar mais”.

Sem ajuda

“Nem psicologicamente. Ninguém me ajuda. Tem hora que peço até ao meu advogado para vir aqui conversar um pouco e desabafar. Não tenho ajuda psicológica, ajuda emocional nem financeira. Minha família nunca chegou para dizer… você tá precisando de que?”.

Pressão

“Claro que pensei em sair do esquema. Eu que pedi pra sair do órgão. Eu que pedi pra sair do Idema. Eu tava cansado, saturado.
“Não aguentava mais. Eu queria tranquilidade, paz, sossego. Em 8, 9 anos na advocacia, não tinha passado tanta pressão como eu passei em quatro anos nesse órgão”.

R$ 50 mil para silenciar

Gutson também se negou a comentar sobre a notícia de que a Procuradoria-Geral de Justiça ter dito, em documento, que o deputado estadual Ricardo Motta tentou comprar o silêncio dele. “Não vou falar sobre isso”, disse.

Dama de Espadas e Candeeiro

A reportagem indagou a Gutson Bezerra se há conexão entre as operações Dama de Espadas e Cadeeiro, o que foi negado pelo ex-diretor do Idema. “São totalmente separadas”, disse.

Recomeço

“Eu só quero recomeçar minha vida de uma forma honesta. E vejam que eu paguei de todas as formas. o futuro é pedir a Deus que me proteja e que abra as portas pra mim”.

“Sou católico. Me apego a Deus, à Nossa Senhora. Apesar do que estou passando, agradeço a Deus todos os dias. A fé é o que mais me reforça”.

O crime compensa?

“Não. Se eu tivesse pensado nisso antes, não teria acontecido isso”.
DEDÉ AUTO PEÇAS

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