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COISAS DE NOSSA TERRA: POETAS DE SERRA NEGRA DO NORTE

Artigo de Fernando Antônio Bezerra
Tirado do Blog de Ferreirinha


Tenho o privilégio de andar por todo o Seridó e em vários recantos ter raízes fincadas. Com Serra Negra do Norte minha proximidade remonta ainda aos tempos de escola onde, dentre meus melhores amigos, estavam serranegrenses das Fazendas Arapuá e Rolinha. Adiante, pelos laços do casamento, de novas e grandes amizades e pela cidadania honorária, me tornei um filho adotivo da terra banhada pelo Espinharas.


Sobre Serra Negra muito já foi dito e muito mais se tem a dizer, mas pouco, talvez, tenha sido refletido sobre os poetas do lugar. E não são poucos! São poetas anônimos e famosos; são pessoas do povo e das letras; são pérolas tantas vezes encontradas onde nunca se imaginou existir tesouros.

Para ser justo, talvez seja uma característica presente em quase todo o Seridó. Ouço relato de poetas em várias outras cidades com as quais convivo, mas a poesia em Serra Negra se diferencia um pouco mais pela presença em todos os segmentos sociais, apesar de uma ocorrência, a maior, dentre os que convivem e trabalham no meio rural. Assim, por exemplo, segundo pesquisa de Luiz Mariz de Araújo Filho, serranegrense da melhor qualidade, pessoas como Damião Galvão de Figueiredo, Antonio de Minucio, Dedé Bernardino, Cristovam Dantas, Professor Paquera, Heidenor Lins, Ramiro da Saudade, Maria dos Anjos, Urbano Batista, Valdemar Araújo, Vergniaud Lamartine, Chagas de Nezinho, Meira de Vergniaud, Zé de Leira, Manoel Cruz e João Dessoles Monteiro são alguns, dentre outros, que se destacaram pela produção de trovas, paródias, repentes, sonetos ou outros gêneros poéticos. 

Além desses, alguns outros, com raízes no lugar, mas que residem fora, a exemplo do Professor Garcia, em Caicó, e José Lucas de Barros, atualmente em Natal. Outros nomes, seguramente, merecem ser relacionados, mas deixo a tarefa para que os pesquisadores completem a relação. Hoje, particularmente, desejo partilhar um pouco do que sei sobre o muito que representam – e são – dois grandes poetas: João Dessoles Monteiro e José Lucas de Barros.

João Dessoles
João Dessoles é agricultor, homem de lida diária na enxada e no curral. Aos sábados, sentado em uma carroceria de um carro de feira, vem à cidade e, em torno dele, sempre se reúnem alguns para ouvi-lo em serenidade e sabedoria. Nasceu no dia 27 de setembro de 1938, em Serra Negra do Norte/RN, filho de Colatino Dessoles Monteiro e Joana Maria da Conceição. Segundo relato de seu filho, François Dessoles, João ingressou no serviço militar (servindo em Natal, Campina Grande e Recife), mas não teve condições de seguir a vida estudantil que desejava e parou na 4ª. série do ensino primário. 

Seus pais agricultores não tinham condições de suportar despesas com dois filhos estudando fora de casa. João Dessoles renunciou a oportunidade em favor de um outro irmão e voltou para a luta do campo. Casou-se com Alzira Álvares de Faria, sua conterrânea, com quem teve 12 filhos (seis casais). Criou a família com simplicidade e honradez. Amigo dos poetas, com os quais sempre interage em cantorias e festivais, é ouvinte assíduo dos programas radiofônicos de violeiros e trovadores. 

João Dessoles, por outro lado, é um homem de seu tempo, consciente de sua cidadania e abalizado para debater, com substancioso conteúdo, qualquer tema atual, especialmente, os que se referem ao Nordeste brasileiro. Ruy Pereira, de saudosa memória, médico, professor universitário, líder político, foi incontáveis vezes ao Sítio Pintado conversar com Dessoles e não escondia o quanto o admirava no verso e na prosa. Admiração, aliás, que é de todos que o conhecem.

Sua planta: por Deus, edificada;
Sua face: elegante e sinuosa;
Sua pose: altaneira e majestosa;
Sua fronte: nos ventos, penteada;
Seu orgulho: ter sido preservada;
Seu segredo: encantar quem lhe rodeia;
Sua altura: ajudar que a mente creia;
Seu vislumbre: o Poder do Grande Artista,
Serra Negra, o teu pico ainda avista,
Lindas ondas do mar beijando a areia.
(João Dessoles)

José Lucas de Barros
José Lucas de Barros, por sua vez, homem igualmente talhado na simplicidade da vida rural, conseguiu, com dificuldades materiais, trilhar os degraus da vida estudantil e abraçou, com disciplina, as oportunidades que surgiram. Fez vida profissional no Banco do Brasil, mas também foi professor e advogado. Zé Lucas, por nascimento, é paraibano de Condado, mas seu registro civil foi lançado em Serra Negra do Norte como por lá nascido aos 12 de março de 1934, filho de Joaquim Lucas de Araújo e Carmina Maria do Carmo. 

Com Celestina Batista de Faria Barros teve um duradouro matrimônio e cinco filhos. Viúvo, contraiu segunda núpcias com Maria Rosicleide Isidro de Barros. Tem vasta obra publicada que o fez vencedor em inúmeros concursos literários e foi condecorado pelas instituições do ramo com diferentes honrarias, inclusive, em 2014, com o honroso "Magnífico Trovador" da União Brasileira de Trovadores em Nova Friburgo-RJ. É um dos atuantes dirigentes da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte. A letra do hino do centenário de Caicó, dentre outras ricas composições, é de sua autoria. 

José Lucas, pela genialidade que inspira sensibilidade, é reverenciado como um dos maiores poetas do rincão potiguar em todos os tempos e, para nosso orgulho, tem sangue, suor e lágrimas formados no Seridó, algo indispensável para transformar em palavras o cheiro inigualável da chuva no sertão:
Vendo d’água a terra cheia,
Eu sinto a doce lembrança
De meu tempo de criança,
Dos meus açudes de areia;
A corrente do regato,
O cheiro de flor do mato
Das caatingas do sertão,
Tudo são gratas memórias
Que vêm cavar mil histórias
Plantadas no coração.
(José Lucas)

DEDÉ AUTO PEÇAS


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